quinta-feira, 11 de junho de 2009

TEMPOS



DEMA




Lá fora está escuro. A noite enraivecida estendeu um véu de nuvens sobre a face das estrelas. De vez em quando, arrependida, chora sobre a terra já lavada, amolecida e lamacenta. E os meninos sonham tristes. Se não fosse a chuva, sob o olhar meigo da lua, ainda estariam na ciranda, no chicotinho queimado. E as meninas que se enjoam das bonecas hoje falham ao compromisso na esquina. Quem sabe amanhã!!! Sonham sonhos diferentes, de esperança, de ilusões. Bendita chuva de verão pro milharal! Maldita chuva pras meninas sem bonecas! E o rádio velho chia tanto, que a gente grande o está ouvindo sem razão.

Esse é o tempo dos meus tempos, dos seus; o das noites lindas de pula-corda, de cadeirinha, solta-balão. Tempo das rodas, das cantarolas, das noites tristes com lua morta.

Se o mundo vira, revira, que culpa tem? Nós o viramos, o transformamos. E veio a tecnologia roubando a noite, encobrindo o céu. Não se admire se já não sabem as crianças onde fica o cruzeiro, a cova de Eva, as três Marias e a cova de Adão. As sete estrelas não são mais vistas. Só há estrelas na rotunda de palco de televisão.

O céu é sempre negro, aqui na cidade, lá no campo. Só porque chove? – Não. Em qualquer dia, com chuva ou não, com ou sem poluição, é negro porque não há mais olhos que o queiram ver.

Benditas noites tristes daqueles tempos! Malditas noites de luar! Não fossem estas, talvez alegres, não teríamos hoje porque chorar.

Nenhum comentário: