sexta-feira, 25 de julho de 2014

Esperada chuva

dema

(A chuva sobre o telhado, caindo mansa,  
evoca-me, de aconchego, ternas lembranças.
À razão peço arrego e então me entrego inteiro
a aspirar o cheiro dela em meu travesseiro.
Acalanta-me a imagem do seu lindo rosto
que em sonho vejo, ao colo que beijei com gosto.)


Torneira oclusa no céu.
Mil rezes morrem de sede,
homens em ‘spera na rede,
fedem suor seus chapéus.
Mulheres acendem vela.
Onde a graça da novela?
Vasilhas sujas na pia,
idas diversas à cruz
pra aguar-lhe o pé na certeza
de que, mais ou menos dia,
ouvir-nos-ia Jesus,
nosso irmão por natureza.
Eis que chega de mansinho
e até com certo carinho;
faz a calçada vermelha
com barro a correr meloso
do telhado, telha a telha.
Como Cristo é generoso!
Descendo, a umidade mela
meus olhos secos e tristes
inda sujos de remela
que ao pano enxuto resiste.
Depois só riso, alegria,
ao ouvir de novo o canto
das aves que bem sabiam
qual a razão desse pranto.
Sê bem vinda, chuva fria,
vem e faz mui verde a grama.
Quanto a mim, chamo à folia
meu amor pra minha cama.

DEMASILVA

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