domingo, 11 de março de 2012

A partida


dema

Onde o ar que lhe falta aos pulmões?
Onde seus pulmões a se intumescerem de ar para a vida?
Uma tarde-noite por demais estendida, de asfixia, de dor, de temor, de desesperança e de espera.
É a alma abandonando o corpo senil, putrefato.
São as memórias em ebulição no transe da despedida.
É a vida dizendo adeus à vida, sucumbindo-se à morte.
É a morte se apoderando do corpo e nele se instalando a exalar seu cheiro estranho, que me entranha as narinas, a circulação e a mente.
Seu polegar direito esfregando-se nos outros dedos, em gestos repetidos, como o tic-tac do relógio cronometrando o tempo para o desfecho.
Os olhos mirados na eternidade, subitamente fixos em mim, confirmam-me a verdade:
_ Meu filho, estou partindo.
De repente cessa a respiração ofegante.
Cristaliza-se o olhar sem uma lágrima...
Cerro-lhe as pálpebras e choro.


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