terça-feira, 29 de maio de 2012

Poeta português

dema
“Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo” (Fernando Pessoa)


Ensimesmado eu o vejo,
fechando o círculo em si,
girando no próprio eixo
e todo o universo está ali.
Busca sentido pro verso
dobrando as mesmas palavras.
Estaria nisso seu estro
ou no modo como as conchava?
Mas é inegável a beleza
em inspiração tão fecunda
pra descrever a tristeza,
que a todo o tempo o circunda.
Alma de aura arroxeada
externando o choro da vida,
como se a morte almejada
viesse a ser sua guarida.
Lê-lo traz gosto de fel
e o sentir de um belo estranho,
pois lembram-me os versos que o céu
se fizera pra outro rebanho.
Quisera enganar a Deus,
para lá segurar seu lugar,
criando heterônimos seus
e assim poder se safar?
Não me parece, contudo,
senão criação genial
a instigar muito estudo
da obra fenomenal,
que eu, simplório e matuto,
a enxergo tal e qual:
jeito triste de ver a beleza,
mas belo em cantar a tristeza.

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