terça-feira, 15 de janeiro de 2013

CULPA DA NOITE

 
dema
 
Sim, a noite abusa de minha inocência,
deturpa meus sonhos e meus pensamentos;
desnuda a morena sem dó nem decência,
fazendo-me amá-la com mil juramentos.
 
Ah, noite vadia,
que vadio faz o meu velho bom senso,
pois mal nasce o dia, com a alma vazia,
me torno hipertenso.
 
Adicto da noite, me vou novamente
buscar alimento pra minha fraqueza.
Violento a malícia pra amar com pureza
aquela que amei depravadamente.
 
Oh, vã tentativa
de delicadeza ante deslumbramento
que a musa me causa e me tira a nobreza
naquele momento.
 
A culpa é da noite, se nem vespertina,
já vem em surdina, quer me atormentar,
em meu desassossego, mostra-me a sina
de amar a morena, mas com abastardar.
 
Quero à luz do dia,
ser meu próprio dono, se bem me abandone
à aflição d’esperar que a noite me a traga
pra outro pecar.
 
Que sorte esta minha, fugir eu nem posso,
que impressão retrato pra quem me estima,
que vida sofrida este meu “padre-nosso”,
como fel e mel ao meu ser se destina.
 
Haverá perdão
se assim se viver, só gozar e sofrer
(o demônio noite não há de merecer):
Morena-paixão?

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

ENTRE CORVOS...


 
(dema)
 
 
 
 
_ E aí, Brother, qual é o rango de hoje?
_ Ué, Mano, beleza pura. Podemos escolher.  Temos um resto de pernil fresquinho do Natal.
_ Ah, não, meu irmão, isso é porcaria...
_ É mano, mas temos um filezinho dos “bila”, uma carcaça de semana de  um adicto ali no brejo.
_ Ô Brother, “falô”. Isso é que é comida de bacana. Duro mesmo é depois, a ressaca da alucinação. Sacanagem!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

REDOMA


dema
 

De excessiva intransigência

mesmo em coisas pequeninas,

dado o gênio seletivo,

posto poucas cultivadas,

de amizades, com insistência, desdenhara;

arrogante independência de si todos expulsara,

formatando seu destino.

 

Tempo bom, antigamente, era menino,

vislumbrado com o mundo (divino lhe parecia),

como em reino encantado sua vida era alegria:

seus amigos, seus amores, fantasias.

 

Na redoma edificada

fez-se seu presidiário,

mais parece um homem-fera

este ser tão solitário.

Dela não quer ser mais dono,

muito menos locatário

e paga caro, paga caro,

elevado numerário.

 

Por muito se lhe dissessem que tomasse mais cuidado,

que ninguém vive sozinho, qu’ isso ao homem não é dado,

(seja o mais independente

irá tornar-se um indigente),

optou por se provar que tais conselhos eram blefe,

pois, melhor que qualquer outro, seria seu próprio chefe.

 

Passado certo tempo, veio entrando em desespero,

confirmando lhe a vida que o sozinho não é inteiro,

não há quem a se bastar, se a terceiros for inútil,

tudo vira sofrimento, quando não a vida fútil.

 

Ser em si e para si, há de requerer também

que se seja para o outro ou não se será alguém.

Que se quebre a redoma

(e outro rumo a vida toma)

ou que se a gaseifique

e nenhum ser a reivindique.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

VIRGEM MORENA


dema

 

Sob o manto da Virgem morena

os fiéis dobram seus joelhos,

abertos os olhos, pupilas pequenas,

pedem à Santa conselhos.

 

Diante do nicho dourado,

luzente, de esmolas dos pobres,

humanos, cheios de pecados,

se humilham e assim ficam nobres.

 

Suplicam o alcance de graça,

a cura pra todos os males,

que os livre de tanta desgraça,

ou o que quer que à vida lhes valha.

 

Azuis, os olhos da menina

refletem os brilhantes do manto.

Que então pensará a pequenina,

olhando a imagem com encanto.

 

Homens imberbes, barbudos,

jovens, crianças, mulheres,

perante a Santa ‘stão mudos,

olhares traduzem quereres

 

Misturam o Pai e Jesus Cristo,

pedem perdão dos pecados.

De Maria imploram até visto

pra quando rumarem o outro lado.

 

E a Virgem a todos acolhe,

torna-se lhes medianeira,

consegue aos que o Filho escolhe

graças para a vida inteira.

 

Então, ao Pai glorifica,

e de mãe cumpre seu papel,

arrebanha e até santifica

essa  gente que lhe pede  o céu.

 

Ave Maria, ave Maria,

abençoa esta romaria.